terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Talvez amanhã

"Acho que somos de mundos diferentes" ele disse. Li aquilo traduzindo para "Não dá não, desculpa aí, até mais" no bom português. Não pude discordar. Não tive como discordar.
Ultimamente venho sendo bem piegas, clichezona e amante de um bom romance diabete, mas (graças aos céus) ainda possuo minha veia realista. Essa história de opostos se atraírem, pra mim, não rola. E não estou falando de ele gostar de branco e ela de preto. Não. Branco e Preto formam um belo par. Estou falando de ele chegar com aquelas cantadinhas ridículas se achando o super engraçado enquando ela só queria que ele citasse Mario Quintana. Estou falando de ele dar muito valor às aparências enquanto ela só deseja ter um papo cabeça. Estou falando de ele se amarrar em ficar horas em uma academia enquanto ela só quer sentar com uma xícara de café e ler um bom livro.
"Pois é", respondi. Desde então não nos falamos mais. Agora só reparo que ele está online porque vejo os compartilhamentos dele todos relativos à academia, boa forma e aparência enquanto eu estou curtindo o bicentenário de Orgulho e Preconceito e pirando com a notícia de que John Mayer (que ele confessou nunca ter ouvido falar -PELO AMOR DE DEUS SOCIEDADE-) confirmou presença no Rock in Rio.
Não é uma questão de não se dar bem um com o outro, mas o fator "mundos diferentes", como ele muito bem colocou, atrapalha bastante as coisas. Deve ser exaustivo lutar, tentar entender, abrir mão, argumentar e aceitar todos os dias aquilo que não faz parte de seus interesses, mas que é a vida do outro. Minha prima acha que a graça da vida é essa: aprender a lidar com as diferenças do próximo e passar por cima disso tudo e aprender ser feliz com isso. É uma bela forma de ver as coisas, mas até onde isso é possível eu já não sei dizer. Até onde isso tudo pode ir, até quando pode durar, até onde se pode suportar tantas diferenças... Sinceramente, não acredito. Não sei se consigo.
E aí que eu vou abrindo mão de tentar porque já tenho uma visão que me diz "nunca daria certo". Minha mãe diz que sou exigente demais, que não posso cobrar tanto dos outros ou acabarei sozinha. Talvez eu entenda muito pouco do amor e de tudo que ele é capaz de suportar e vencer. Tenho dezessete anos e entendo pouco desse mundo de relacionamentos e como ele funciona. Talvez por isso eu seja assim, descrente. Contudo, por enquanto, sou dessas que não vê dando certo um relacionamento em que ele quer ir para a boate capenga ouvir MC Beyoncé no ~camarote~ enquanto ela quer ver uma peça de teatro.
Talvez eu não entenda NADA mesmo sobre o amor, mas acho que já é difícil chegar a amar de verdade e logo de cara alguém que se mostra ser o seu completo oposto. Talvez amanhã o amor me surpreenda e me faça engolir todas as minhas palavras, me faça abrir mão de uma tarde com meus livros e sair com ele para uma boate capenga, só para agradá-lo. Entretanto, hoje, só quero mesmo o cara de óculos que gosta de falar de revoluções, política e debater filosofias sobre as letras dos Los Hermanos.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Just saying...

    Tenho que confessar que ando triste. Triste porque não ando muito boa para escrever. Parece até que perdi a poesia. Os filmes não fazem mais sentido, nem mesmo aqueles de décadas passadas. Esses dias parei para assistir “De repente 30” –pela milionésima vez- e dessa vez, diferente das demais, não consegui encontrar nada para ficar refletindo no escuro. Revi Orgulho e Preconceito, meu filme favorito. Nem mesmo o olhar de Mr. Darcy me deu ânimo para rabiscar no papel algumas palavras.
    Ando ouvindo os CDs de Jason Mraz dia após dia. “Because I'm crazy like the rest of us, but I'm crazier when I'm next to her. And it's so amazing how she's so self-assured, but I know she'd hate me if she knew my words. Do I hurt anymore? Do I hurt? Well, I don't. I don't. I don't” Eu ainda sou assim tão segura? Você me odiaria se soubesse o que eu falo de você? Quem é você? Eu ainda machuco? Às vezes parece que tenho muito a escrever, mas quando me ponho a digitar, nada vem, nada ganha vida. As palavras não se encaixam. Isso me deixa triste demais.
    O ano novo foi bom, mas 2013 chegou com menos vida do que eu esperava. Eu não sei mais no que pensar, em quem pensar. Não sei mais poetizar sobre os ventos que vêm do pulmão. Os dias andam corridíssimos, agindo festas, reencontrando amigos, passando vergonha... Tem sido bom, mas estou com saudade do meu papel e caneta. Do sentar na cama e sentir a brisa fresca do anoitecer que entra pela janela. Escrever por escrever, sobre aquela frase que fulano falou, sobre aquele riso que tal personagem deu na série que gosto, sobre aquele trecho daquela música que ouço todo dia, mas que de repente fez sentido. Coisas que ficarão somente no papel e que nunca chegarei a publicar no blog. A falta disso me deixa realmente triste.
    Esses dias minha melhor amiga dirigiu pela primeira vez, coisa rápida, papo de duas ruas. Eu estava no banco de trás e senti uma coisa boa no pé do estômago. Naquele momento eu tive vontade de estar com papel e caneta na mão para escrever sobre o calor, sobre aquele segundo em que nosso amigo segurou minha mão ao meu lado, sobre as nossas risadas, sobre a aventura débil a 20 quilômetros por hora. Queria estar com papel logo depois que acordei no meio do filme. Queria escrever sobre o barulho do nosso amigo fungando o tempo todo, sobre o frio do ar condicionado, sobre aquele chão que abrigava três corpos sonolentos. E agora, aqui, na frente desse computador, não estou conseguindo falar sobre isso. É triste.
    Venho tentando preencher esse vazio lendo desesperadamente Drummond, Quintana, Carpinejar. Ontem descobri um tal de Francis Russell O’Hara, ele é inspirador. Todos eles são. Por isso ando tentando usá-los para sanar minha tristeza. Para tentar descobrir o que me falta. Confesso que larguei "Persuasão" da Jane Austen porque eu estava deprimida e irritada com a Anne e comecei "As Vantagens de Ser Invisível". Não que eu não tenha me deprimido com o Charlie em algumas cartas, mas gosto dele, gosto mesmo. Acho que Charlie me entenderia porque sinceramente eu o entendo. Já terminei de ler e também estou triste por ter deixado Persuasão de lado, mas tão pouco tenho vontade de continuar. Sei que Anne vai voltar a me irritar.
    Ah! Tem gente nova chegando. Espero que venha para acrescentar e me inspirar a escrever. Tem gente que está aqui há dois meses, me rendeu dois textos que publiquei e depois os deixei escondidos nos rascunhos. E mais nada. Eu cansei das sms, dessas conversinhas sem sentido no chat do facebook. Cansei dessa coisa toda, mas tão pouco tenho coragem de chamar para mais perto. Estou triste demais para isso e estou triste por isso, por você ser um cretino. É foda.
    É uma fase ruim e espero que passe logo. Bem logo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Querido Charlie,

    Essa semana acabei de ler todas as suas cartas. Você compartilhou comigo coisas tão singulares da sua vida, que eu pensei ser bacana da minha parte tentar te responder de alguma forma. Dizer que esses momentos que significaram muito para você, e que, com tanto afeto você dividiu comigo, por incrível que pareça, acabaram significando muito pra mim também.
    Quero te dizer que eu queria que você fosse real. Na verdade, bem no fundo, sei que você é. Talvez eu não o tenha encontrado, ou talvez tenha e ainda não percebi. Talvez você realmente não se chame Charlie, mas sim Nathan, Lucas, Pedro, Thomas... vai saber! Mas mesmo assim, eu escrevo pra você te agradecendo por tudo. Te agradecendo por ter confiado em mim e ao me escrever, ter me deixado ser meio Charlie pra você também. Acompanhei sua história, cada cena que você descreveu, cada momento que você disse ter derramado lágrimas, acredite, eu derramei também ao ler. Eu te entendi em cada questionamento que você se fez. Espero ter feito um bom trabalho como Charlie para você. Espero ter visto, guardado silêncio e compreendido tão bem como você faz.
    Sabe Charlie, a verdade é que todos nós somos um pouco problemáticos mesmo. Uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção, possuímos o questionamento “o que há de errado comigo?” vagando pelos nossos pensamentos. Acho que é inevitável. Mesmo você sendo tão singular, tão diferente de tudo o que eu já vi, já conheci, já li, acho mesmo que todos temos um pouco de você em nós. E acredite em mim, isso é bom. Você é puro, honesto, doce, sensível e invisível. O que mais se pode querer de um amigo? O que mais podemos querer ser, além disso?
    Em uma das cartas (uma das minhas favoritas) você mencionou que passou o feriado lendo Hamlet e que se deu conta de que outros no passado já viveram na mesma situação. Se serve de algum consolo, posso te afirmar que hoje, em pleno ano de dois mil e treze, existem milhões de pessoas vivendo as mesmíssimas sensações que você viveu na década de noventa. Confesso que eu mesma me sinto assim às vezes... sozinha e desprotegida. Lembro que você também falou do seu desejo de que Deus ou qualquer outra pessoa te dissesse como ser diferente de uma forma que faça sentido. Sabe, Charlie, você faz sentido pra mim. E tenho certeza que você faz sentido pra Sam também e para o Patrick. Você é o tipo de cara que simplesmente está ali. Mesmo que não tenha nada a dizer, nada a fazer, você vai estar ali e isso já faz todo o sentido. As coisas não se encaixam quando somos nós que carregamos as dificuldades, e realmente tudo fica muito confuso. Como disse seu psiquiatra, “as coisas pioram antes de melhorar”, ou seja, não faz sentido agora, mas fará depois. Talvez um dia a gente venha a entender o porquê desses porquês.
    Sabe de uma coisa engraçada? Essa história de todos sermos meio Charlie, mas precisarmos de um Charlie ao nosso lado para nos ajudar nos momentos difíceis. Essa particularidade te faz muito especial e eu te agradeço mais uma vez por ter me permitido fazer parte disso tudo.
    Espero que você continue sempre tentando fazer com que as coisas fiquem bem, espero mesmo que você tente “participar” e se encaixar. Quando tudo sair de seu controle, apenas tente se acalmar e deixar que o silêncio ponha tudo no lugar. Mande abraços para seu professor Bill. (Confesso que me interessei e anotei todos os nomes de livros que ele te deu para ler). E ah! Agora, toda vez que ouço Asleep é inevitável não lembrar de você. Gosto muito da versão cantada pela Emily Browning, você deveria procurar para ouvir algum dia.
Com amor,
Loren

Sobre enxergar melhor

    Esses dias fui pedir conselhos para uma amiga. Conversa vai conversa vem e no fim eu que a estava aconselhando. Nós já havíamos falado sobre isso antes, mas dessa vez me senti na obrigação de escrever sobre a questão. Não só por ela, mas por mim e por todas as garotas (e garotos, por que não? –mas como esse blog se chama This is What Make Us Girls, elas levam vantagens por aqui-) que se encontram na mesma situação.
    Nem sempre é fácil encarar o espelho e dar um sorriso satisfeito para a imagem de nós mesmos que vemos refletida. Temos a feia mania de sermos drasticamente severos quando nos auto julgamos. Quilos a mais ou a menos, altura demais ou de menos, unhas roídas, cabelos que precisam de muito cuidado, narizes muito grandes, orelhas de abano, pulsos finos demais. Tudo aquilo que nos marca por sermos quem somos geralmente é alvo de nossas mais cruéis críticas.



    Sei que muitos pensam “para você deve ser fácil falar”, mas eu mesma já caí nessa onda de seguir padrões bizarros impostos pela sociedade pós-moderna. Eu já fiz coisas não muito legais comigo mesma e de que não me orgulho em nada para desesperadamente tentar me livrar de humildes quatro ou cinco quilos a mais que estavam me deixando louca. Na época eu fiquei tão abalada, frágil e tão envergonhada que somente duas no máximo três pessoas ficaram sabendo do caso. Até hoje eu não consigo subir em balanças. Não sei exatamente quanto eu peso já faz uns dois anos. Deve ser alguma espécie de trauma que me faz chorar quando vejo o objeto. Entretanto, agora, por você amiga, eu criei coragem e estou aqui falando disso que aconteceu comigo ~publicamente~. Por você eu vou tentar me livrar dessas neuras que ainda me assombram. Na verdade, quero que façamos isso juntas. Agora eu estou aprendendo a me aceitar. Não prego mais ódio às minhas sardas desde que li um texto maravilhoso do Carpinejar chamado A Pele Enxerga Melhor (Obrigada Andy, você não sabe o quanto isso significou pra mim), não fico mais questionando a Deus por que eu nasci com esse nariz achatado se toda a família materna possui narizes perfeitos. Estou tentando não esconder mais minha orelha direita só porque tem um pedacinho dela faltando. Para que me odiar, me esconder, colocar a culpa em Deus, chorar e invejar as modelos desse mundo? Reconheço que é tudo bem MUITO clichê, mas eu preciso gritar por mim, pelas amigas, amigos e até desconhecidos que se martirizam todos os dias. Martirizam-se pelo simples fato de estarem hipnotizados demais por esses padrões que não conseguem perceber a beleza que há em seus olhos, cabelos, pele, sorriso, mente, palavras. Não conseguem enxergar a beleza do conjunto. E cara, o conjunto fala mais do que as partes isoladas e é por isso que amamos as pessoas mesmo conhecendo seus defeitos.
    Essa minha amiga tem quilos a mais e é perceptível que isso a incomoda. Mais do que a incomoda, não a deixa perceber as milhões de outras qualidades que possui. Nessa mesma conversa que tivemos ela chegou a me dizer que não tem como competir com as loiras, altas, magras, de olhos claros pela atenção de caras legais. Contudo, não é um cara que olha para as loiras, altas e magras em uma festa que vai te fazer feliz. É você. Eu nem sei quantas vezes eu já tentei te fazer enxergar isso, mas agora, e eu quero que entenda bem isso: eu falo sério. Não dependa de um rapaz ou de quem quer que seja para ser feliz, comece por você. Fique bem com você mesma. Se aceite pelo que é. Se ame pelo que é. Sua autoestima vai se elevando à medida que você começa a trabalhar com a sua capacidade de se aceitar, de se amar. Os elogios, as cantadas, os olhares que virão são apenas a consequência. Eles nunca devem ser o motivo para você começar a se enxergar. O motivo está em você com você.
    Você é linda. Eu te diria isso todos os dias, mas tem que começar por você. Levante-se e todas as manhãs ao se olhar no espelho, sussurre para seu reflexo: “você é linda”. Você é linda. Talvez você não goste muito de seu cabelo ou braços. Talvez você tenha pavor de subir na balança, assim como eu. Talvez você odeie ter coxas maiores do que você julga bonito. Mas você tem todos os motivos do mundo para ser chamada de linda, para ser amada. Eu me orgulho por ter você como amiga, desse jeitinho que você é. Qualquer cara nesse planeta teria muita sorte de ter você ao lado dele. E como eu disse, você também precisa ser a sortuda de estar ao lado de um cara legal. Se dê mais valor, porque você é sim pra lá dessas coisas. Se ame antes e mais do que qualquer um. Esse é o primeiro passo.
    A linda da Raficha criou um tumblr super encorajador e traçou uma meta que eu tenho certeza que ela vai alcançar. Outras meninas da máfia como a Gab e a Brubs entraram para a academia e iniciaram seus projetos para ficarem mais gatas do que são. Isso é bom. Elas se amam e por isso embarcaram nessa. A questão toda é fazer essas coisas porque nos amamos demais e queremos fazer isso pela saúde, para elevar nossa autoestima, para nos sentirmos melhores com nós mesmas. E é por isso que eu, a odiadora mor de exercícios físicos, estou aqui hoje declarando e prometendo a vocês que estou entrando nessa junto com elas e iniciarei em breve alguma atividade física em busca de melhor condicionamento e para perder de forma saudável os quilinhos que me incomodam.
    Amiga, espero MESMO que você esqueça essa paranoia e siga a partir de hoje olhando para si mesma com outros olhos. Eu te amo <3