segunda-feira, 25 de junho de 2012

Adiamento

Fiquei pensando nessa minha mania de deixar tudo para a última hora, tudo para depois, até que lembrei desse poema de Álvaro de Campos. "Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. Só depois de amanhã..." Mas se amanhã eu quero ser algo que não sou hoje, devo começar a tentar mudar isso desde já, correto? Mas cadê que eu coloco os planos ação? Fico aqui só imaginando como será o amanhã, sentindo o sono da minha vida real. Ah Álvaro, como seus poemas me tocam a alma!

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Álvaro de Campos


domingo, 24 de junho de 2012

Daí que é amor eterno



Daí que tenho uns rompantes de saudade de vez em quando. Fico lembrando das bizarrices, das conversas, das crises, das gargalhadas, das andanças, dos segredos e tudo parece tão distante. Acho que distante estou eu, distante sou eu. Essa pecinha que tem um amassadinho na pontinha que nunca deixa que haja um encaixe perfeito em nada, se forçar um pouquinho até consegue se adequar ali e aqui, mas com vocês é diferente. Com vocês eu posso ser até amassada por inteiro que ainda assim dará certo, que ainda assim vou me sentir pertencente a algum lugar, porque com vocês eu me sinto realmente em condições normais de temperatura e pressão.
Mas acontece que nessas andanças da vida eu estou me sentindo perdida, meio nem pra lá nem pra cá, duvidosa, incerta, chatiadinha, chatinha... e está sendo estranho não ter nenhum dos três em horário quase que integral comigo como era antes. Estranho não conseguir criar a mesma sintonia que eu tenho com vocês com outras pessoas. Simplesmente estranho saber que vocês estão se mudando, isso me causa aquela sensação de pré pânico ao pé do estômago. Sei que a gente não vai se perder, que nada vai mudar, que não há como cortar os laços que demos, desfazer os nós que apertamos com tanta força ao longo desses três anos (graças aos céus). Mas eu sou paranoica mesmo.
E aí que esse final de semana eu queria tanto, mas tanto, mas tanto dizer que amo a gente assim, juntos, zoando uns aos outros, fazendo piada de tudo, conspirando contra a oposição, dormindo de conchinha (?), rs... mas eu não falei nada, eu não falei nada porque, sei lá, me sumiram as palavras, dizer "nossa, como eu amo vocês" me pareceu tão clichê na hora, tão comum, tão "tá bom, Loren, senta lá". É que estou muito emotiva ultimamente, muito em busca do meu eu, muito resolvendo o que eu quero fazer da vida, muito precisando de três pares de ombros, de ouvidos e braços para me abraçarem, me embalarem, me dizerem que está tudo ok. E adivinhem só, queria vocês sempre por perto. Queria que a Priscila morasse na frente da minha casa e sempre me desse aquele bom dia animado e abraço apertado, sempre com o coração aberto para ouvir e aconselhar. Queria a Thaís morando aqui do meu lado, para ela vir aqui na minha casa, ficar rodando o facebook atrás dos top top gatos da cidade e arredores, passar tardes rindo e pintando as unhas. Queria que o Nathan morasse aqui na minha esquina para eu ir lá chorar meus conflitos, para ele me olhar com aqueles olhos de "não sei o que te dizer, mas estarei sempre aqui", para falarmos de bandas, seriados, atores, filmes e todas aquelas coisas que nos parecem normais, mas quase ninguém parece entender.
Mas mesmo em meio a essas melancolias, eu estou feliz, feliz por todos estarmos conseguindo progredir, feliz porque mesmo fisicamente distantes, somos muito próximos, muito unidos, muito muito, rs. Não importa os caminhos, não importa o tempo, nem os obstáculos, a gente vai sempre se encontrar por aí. E o que eu não tive coragem de dizer nesse fim de semana, por achar clichê e sem graça, eu digo agora, assim, por palavrinhas mesmo, simples e discreta: eu amo vocês porque vocês me completam e me deixam completar vocês mesmo eu sendo assim, amassadinha, rs.





quarta-feira, 13 de junho de 2012

Apenas o fim, o dia em que um filme salvou meu dia dos namorados.

Acordei com aquela sensação estranha de que estava fazendo tudo errado, quase voltando atrás em tudo o que eu digo e me entregando ao romancismo barato, aos mimos, aos carinhos, mas respirei fundo e fui levando o dia. Os casais na rua não me incomodavam, nem as flores que os homens carregavam para provavelmente presentear a amada quando ele fosse buscá-la para jantarem juntos, porém as explosões de corações de pelúcia de braços abertos que diziam "eu te amo um tantão assim" que vinham das lojas me fizeram ficar enjoada. Cheguei no pré, Andy estava lá com cara de cão da depressão (não o culpo). No intervalo comprei uns chocolates bem enjoados e minha vida melhorou um pouco.
Chegando em casa, fui assistir ao filme Apenas o Fim, que o Andy tanto insistia para que eu visse. Pois é, é isso aí. Quando os créditos finais começaram a subir eu me senti completamente diferente, como se eu estivesse mesmo fazendo o certo. Porque é exatamente daquele jeito que eu me vejo em um futuro não muito distante. Alguém pra andar e andar pelos corredores da faculdade onde vamos nos conhecer. Nós vamos caminhar muito, sentar em bancos e escadas e conversar conversar conversar e conversar sobre nós. Deitados em uma cama de solteiro, vamos discutir sobre filmes, boy bands, estilos, ovos de páscoa, músicas, sites, nossos devaneios vão se encaixar, vamos discordar de tudo o que o outro falar. Ele pode usar um All Star verde, blusa de gola polo, óculos do avô, colecionar bonequinhos e ainda assim eu vou ter vontade de gritar que ele é meu namorado, que ele é o pai dos gêmeos que estou esperando e que vamos nos mudar para a Bahia. Um cara que vai completar minhas histórias, que vai escrever comigo, talvez por mim e pra mim. Que vai dizer que eu sou a garota mais maluca que ele conhece, mas também a mais incrível. Que vai aparecer nos meus sonhos como um herói, que vai me salvar das criaturas mais bizarras que habitam o meu subconsciente. Que vai me provar que no fundo eu escondo uma garota adepta ao amor clichê que todos falam e vivem por aí.




E o mais legal de tudo é que tem um fim. Não um fim apoteótico, grandioso, tipo final de filme, rs, apenas um fim. E isso é a essência do amor, a minha essência em relação ao amor, essa coisa que eu tenho de acreditar que não precisa ser para sempre, até que a morte nos separe, mas que seja para sempre até o nosso fim, até o dia que eu resolva ir embora, até o dia que seja preciso uma mudança, até apenas o fim.
Eis que meu dia dos namorados foi salvo! Me dei conta de que eu não preciso dizer que sim para nenhum desses que me chegam com fofices declarando amores inevitáveis e saudades eternas. Que eu não preciso entrar em nada sério só porque o cara é legal, meu amigo e diz que me ama há muito tempo, porque no fundo eu sei que não vai ser o filme que eu quero viver. E outra, algo está me dizendo que a partir de agora não falta tanto assim para aparecer o protagonista do meu filme, que tudo pode sofrer grandes alterações, que daqui a duas semanas minha vida pode ser totalmente diferente.




"Sabe, não combina com você esse perfilzinho de menina má. Isso não combina...
Você é uma fraude sabia? Pronto, falei, você cê é uma farsa, uma farsa bem bonitinha, você é uma farsa, tá?"