sábado, 22 de setembro de 2012

Pra ver se cola

Perceberam que eu me vesti de forma diferente e foi pra te impressionar. Você nem chegou a ver, você não estava lá. Eu que ainda nem sei que perfume você usa, quanto você calça, seu tipo de filme preferido, a comida que você mais odeia. Talvez eu nunca venha a saber.
Seria legal se você por acaso, dia ou outro viesse conversar comigo, podemos ser amigos. É. Vem me explicar o que foi aquela tremedeira que me deu nas mãos quando você puxou aquele breve assunto despretensioso. Porque eu não sei. Vem me dizer que sorriso é esse que surge quando lembro o teu nome. Conta pra mim o motivo da sua aparição no meu sonho. Conta pra mim por que cargas d'água eu sempre olho pra montanhas e lembro de mar de morro.
Ontem ventou muito e eu fiquei esperando que esse vento me dissesse lento o que viria. Depois choveu demais. Eu parei para olhar as gotas caindo, molhando e inundando tudo. Me inundou. Me transbordou. Talvez tenha sido o inverno da minha alma se despedindo e dando boas vindas à primavera. Primavera essa que hoje chegou fria.
Será possível? Estou iludida, não é mesmo? Me desilude, então. Me manda parar, diz que não tem jeito, que é errado. É errado? Eu não vou fazer de tudo pra você perceber que sou eu, porque sei que não sou eu. Ou será que sou eu? Que ousadia a minha. Você diz que não vive a esconder o coração, mas eu não acredito. Tem bem mais do que você diz que tem. É bem mais do que você diz ser.
É, moreno, tá tudo bem. Eu sempre quis manter meus pés no chão, mas estou mudada, tô sonhando. Como pode alguém sonhar o que é impossível saber? Vai acontecer. Nem que seja só no meu pensamento. No meu sonho a gente vai brigar, vai sair, vai gritar e sorrir. Pode deixar que eu vou viver isso tudo por nós dois em meus pensamentos. Eu tenho diálogos prontos, passeios formulados, momentos inesquecíveis, tudo em meus pensamentos. Você nem vai sentir, nem vai precisar saber. Que mal há?
Já está acabando, talvez eu nunca mais te veja. Ou talvez te veja na televisão daqui a 6 ou 8 anos. Nesse tempinho que falta vou continuar a te perder no ar, você vai passar sem me notar. Você vai esquecer meu nome, vai esquecer onde moro. Vou te esquecer também. Por que eu deveria lembrar? Hoje a primavera chegou. Ainda temos tempo. Sei que vou passar essas semanas que faltam vendo a primavera brilhando em teu olhar. Esperando que ela resolva soprar pr'um caminho mais feliz.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Subterrâneo (22/29)

Acordei. Acordei de verdade. Abri os olhos e só vi escuridão. Respirei fundo como se o ar do planeta estivesse acabando. Não conseguia me mover. Só sabia que estava num espaço muito apertado. Ai, meu Deus, era um caixão?

Entrei em desespero. A Julieta em sua falsa morte não foi colocada em um caixão debaixo da terra. Pera aí, eu estava debaixo da terra?

-SOCORRO, SOCORRO, SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! ME TIREM DAQUI! - Gritei com todo o ar de meus pulmões enquanto esmurrava o teto sobre minha cabeça.

- Diana, estou aqui, tenta se acalmar, vou te tirar daí. - Era a voz do Alex. No mesmo instante me senti mais segura, mas comecei a chorar.

- Alex, por favor me tira aqui, o que está acontecendo? A gente ia se casar. Estava tudo tão lindo, meu vestido, você... - Chorava tanto que não consegui mais falar.

- Já estou quase abrindo, amor. - A voz dele estava abafada, como se estivesse muito distante ou como se uma almofada estivesse cobrindo seu rosto. Ouvi uns estalos e depois a claridade começou a entrar à medida que Alex empurrava a tampa do caixão.

Quando vi o rosto pálido de Alex tudo o que eu queria era envolver meus braços em seu pescoço, entrelaçar meus dedos em seu cabelo, beijá-lo e nunca, nunca mais deixá-lo se afastar novamente. Eu não consegui. Estava fraca demais, meu corpo doía e só o que eu fazia era chorar.

- Alex, o que está acontecendo? - Falei entre lágrimas tentando me levantar. Percebendo minha fraqueza, Alex cuidadosamente me ajudou e me retirou daquela caixa horrível que me dava calafrios.

- Quando apliquei aquela injeção em você alguma coisa deu errado, não era a substância que eu vinha estudando. - Ele falava enquanto me abraçava. - Fiquei desesperado e não tinha o que fazer, não tinha os recursos para reverter o que quer que acontecesse com você. Não tive outra escolha a não ser te trazer para o laboratório do Dr. Oliver.

- Você o que, Alex? Ficou doido, a gente poderia... - Ele colocou o dedo indicador em meus lábios me fazendo parar de falar e me ajudou a sentar em um banco.

- Eu não tive escolha, amor. Era isso ou você poderia morrer. Fiquei muito desesperado, mas consegui pensar em um plano eficaz. Perigoso, arriscado, mas eficaz. Lembrei de já ter visto no laboratório do Dr. Oliver o veneno "Romeu e Julieta", então escrevi o bilhete, escondi no seu sutiã e voei com você para o laboratório. Chegando aqui Dr. Oliver estava uma fera, mas sua ambição foi maior do que a raiva e ele resolveu te ajudar para depois seguir os planos iniciais. Como eu imaginava. Enquanto ele revertia os efeitos da injeção que eu te apliquei, eu consegui trocar as seringas. Depois ele mandou que os enfermeiros me trancassem em meu antigo quarto e só o que eu pude fazer foi orar para que tudo desse certo.

- Mas como eu fui parar nesse caixão, Alex? Onde a gente está? Como você conseguiu fugir? - Olhei com repulsa para o caixão aberto. Eu tinha tantas perguntas, tantas aflições e a sensação de que esse pesadelo não acabaria nunca.

- Como eu imaginei, ele seguiu com os planos dele e aplicou a suposta substância que te transformaria em Zumbot, mas era o veneno Romeu e Julieta. Ele pensou que você tinha morrido e já não tinha mais o que fazer. Decidiu que iria te enterrar, por isso te colocou nesse caixão.

- Mas como você conseguiu sair, Alex? Como você sabia que eu estava aqui?

- Eu tinha uma cópia da chave escondida no colchão, mas tive que lutar contra a ansiedade e esperar os enfermeiros saírem da vigia para então poder te buscar. Rodei todos os corredores atrás de você até te encontrar aqui, no subterrâneo do prédio.

- Mas e agora, Alex, o que a gente vai fazer? Eu não consegui te salvar... - O abracei com toda a força que havia em meu corpo de recém ressuscitada de uma pseudo morte.

- Calma, amor, vamos dar um jeito nisso juntos, mas antes temos que sair daqui o mais silenciosamente e discretamente possível. - Ele me deu um beijo tranquilo e suave que me acalmou por uns segundos. Quando nos levantamos e estávamos nos direcionando para a saída daquele lugar tenebroso ouvimos passos e a voz do Dr. O liver: "Sei que você está por aqui. Não vai conseguir se esconder por muito tempo, Alex." Meu coração parou de bater de tanto medo.



Essa é a parte 22 do conto que nós, lindas mafiosas, estamos escrevendo juntas em comemoração do aniversário de um aninho da nossa tão amada máfia. Tudo começou com a mente brilhante da Rafa e daí cada uma de nós, todos os dias desse mês, vamos dando continuidade ao conto. Ontem a Vanessa passou a bola pra mim e amanhã é a vez da minha mamis: Ruvs. Corre lá pra ler a continuação!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Isadora

Ela tinha por volta de uns vinte e cinco anos, todos os dias eu a via passar apressada naqueles vestidos estampados, em rumo ao prédio onde ela cursava publicidade e propaganda. E eu ali, só ficava sentado no meu banco, olhando por cima dos meus óculos fingindo ler um livro. Ela não reparava que eu estava ali, que eu construí uma rotina onde dedicava sete segundos do meu dia só para vê-la passar. Todos os dias eu estava ali, olhando, sentado, olhando, parado. Esperando que um dia talvez, ela viesse me perguntar as horas, quem sabe, ela não usava relógio mesmo. Pensei em comprar um e presenteá-la em um dia qualquer, mas ela ia me achar no mínimo maluco. Já pensei em esbarrar com um copo de café em cima dela, mas isso iria chateá-la. Pensei em ajudá-la a catar os livros, mas ela nem andava com livros nas mãos. Pensei em mandar bilhetinhos anônimos todos os dias, mas eu nem saberia o que escrever. Já pensei em tanta coisa, mas nada concretamente bom para fazer com que ela pergunte meu nome e venha a se interessar pelo o que eu faço, pelas coisas que eu gosto...

- Olha, ela tá vindo, corre lá, fala com ela.
- Ela tá com muita pressa, vou atrapalhar.
- Mano, como ela vai saber que você existe se você se esconde atrás desse livro e só deixa os olhos de fora?
- Me deixa, Inácio, não é hoje o dia. Vamos embora, ela já passou.
- Cara, você é um otário. Um otário, Theodor, um otário!

Inácio tinha razão, eu sou um otário. Um otário bobo que só sabe criar planinhos babacas que nunca darão certo. Um otário. Dia após dia eu me sento naquele banco, que acredito eu, ser um lugar estratégico. Alimento a esperança de que em uma manhã ela vai se sentar ali para respirar um pouco ao meu lado, dividir o meu ar, descansar um bocadinho antes de sair esbaforida pelo prédio adentro, e nesse dia, eu iria puxar um assunto. Não seria inconveniente, não atrapalharia o caminho dela, afinal ela que iria sentar no meu banco. Aí tudo iria mudar. Mas enquanto isso eu só fico aqui, olhando, esperando.

Eu tenho uma puta raiva de mim, porque não quero chegar e dar um "oi, me chamo Theodor", eu não quero não, eu não consigo. Minha garganta fecha só de pensar. Já inventei milhões de diálogos, treinei diversas vezes em frente ao espelho, mas não dá. Não dá. Sempre fui o tipo de cara que nunca se deu muito bem com essa tal arte da sedução, eu não sei lidar com isso. Eu só queria ter uma oportunidade de conversar com ela, que acontecesse naturalmente, queria que essa porra de destino ajudasse. Mas eu nunca fui o tipo de cara que o destino gosta de ajudar. E aí que eu fico nessa, sentado e esperando.

- Vou te ajudar, mano.
- Ajudar em que, Inácio? - Respondi sem tirar os olhos de um roteiro que estava lendo.
- Vou lá falar com aquela garota de publicidade.
- Pelo que eu me lembro não te pedi ajuda nenhuma. - Respondi sem tirar os olhos do papel.
- Qual é, a gente inventa alguma coisa pra puxar assunto e tal, não vai ter errada.
- Ah é mesmo, espertão? O que o Senhor genialidade vai fazer?
- Sei lá, dizer que a gente tá querendo saber uns métodos bons de divulgação do nosso curta metragem, sei lá, alguma coisa relacionada ao que ela faz.
- Não mesmo. Deixa isso pra lá.
- Como deixa pra lá, Theodor? Se somar todos os segundos que você perdeu naquele banco, sentado, seria igual ao tempo médio de um namoro de um casal normal, E ISSO É MUITO TEMPO!
- Não adianta, Inácio. Esquece isso, é perda de tempo...

Não tinha jeito de me fazer mudar de ideia, eu não iria forçar nada e ficar parecendo um idiota -maior ainda-. Inácio era impulsivo e fazia as coisas como bem entendia, mas graças aos céus o convenci a desistir daqueles planos que cheiravam a fracasso e vergonha só de ouvir.
Os dias foram passando sempre da mesma forma. Aqueles meus sete sagrados segundos sentado naquele banco, os trabalhos da faculdade, as provas, os projetos... Até que o dia mais trágico da minha vida chegou.

Eu estava sentado no meu banco, ela estava uma hora atrasada. Provavelmente não iria aparecer. Como eu só teria aula nos os dois últimos tempos, resolvi ficar por ali mesmo estudando para a prova do dia seguinte. Daí que ela aparece. Vem caminhando como se estivesse procurando por alguém. Olha para o meu banco e vem em minha direção. Meu coração começou a pular descompassadamente, achei que ele ia sair pela boca e cair no chão. Rapidamente tentei me ajeitar. Ela veio, veio, veio e sentou do meu lado. Santo Deus, isso estava mesmo acontecendo? Do jeito que eu imaginei todo esse tempo? Quando eu estava controlando a respiração e já ia abrindo a boca pra falar com ela, eis que ela fala primeiro:

- Oi, você viu um rapaz alto, bem branquinho do cabelo preto passando por aqui?
- Hã, er. Branquinho? - Queria morrer logo depois que abri a boca pra falar isso.
- É, bem branquinho. - Ela sorriu. Devia estar pensando que eu tinha algum tipo de retardo.
- É, bem, não vi não.
- Olha, ele está vindo ali! - Ela se levantou fazendo sinal para o tal sujeito branquinho.

Ele chegou e não a beijou. Ótimo, não eram namorados.

- Fui ao banheiro e quando saí não consegui te encontrar. Acabei me perdendo... Esse lugar é enorme. - O cara falou enquanto se sentava entre mim e ela.
- Tudo bem. - Ela deu um sorriso enorme e colocou a mão na coxa dele. Não estavam mais parecendo ser somente amigos. - Você disse que queria me falar algo, mas aí foi ao banheiro... O que era?
- Isadora, é, eu queria esperar, fazer algo mais elaborado, mas vai ser assim mesmo. Eu te amo e quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Eu vou fazer de tudo pra ser o homem por quem você vai se apaixonar cada vez mais todos os dias. Eu detesto gatos, mas por você eu aprenderia a conviver com eles em uma casa, a nossa casa. Eu quero você pra ser minha esposa. Quer casar comigo? - Disparou ele. Nem ao menos respirou no meio das frases.

Tossi, tive uma crise de tosse, na verdade. Eles me olharam tipo "Você está ouvindo nossa conversa?". Peguei minhas coisas e saí dali o mais depressa que pude. Puta que pariu, ele a pediu em casamento ali, no pátio da faculdade, ali no meu banco, no banco onde a minha história com ela iria começar. Ali do meu lado. Fui me afastando, sem pernas, sem ar, sem sentir o chão. E tudo o que eu tinha planejado? E o futuro que eu imaginei para nós dois tantas vezes? Ela vai aceitar se casar com o cara que não gosta de gatos. Eu gosto de gatos, ela podia se casar comigo. Olhei para trás e ela estava com o braço direito esticado, olhando o tal do anel provavelmente muito brilhante. Estava chorando ao mesmo tempo que ria. Estava tão linda e parecia indescritivelmente feliz. Os dois levantaram e se beijaram embalados em um abraço. Ajeitei minha mochila no ombro, os livros no braço e fui para minha sala.

Daquele dia em diante eu continuei a vendo todos os dias, mas nunca mais tornei a sentar naquele banco. Um ano depois eu me formei, nunca mais a vi. A vida foi passando, conheci outras garotas, namorei três (só Deus sabe como) e acabei me casando com a terceira. Comprei uma gata e a nomeei Isa. Amava minha esposa, mas no fundo, no fundo, nunca fui capaz de esquecer Isadora.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Apenas diga a si mesmo: "eu vou ficar bem"

Se eu pudesse você sabe que eu te salvaria. Daria o mundo e tudo mais o que estivesse ao meu alcance para poder te retirar desse buraco negro que só te suga um pouquinho a cada dia.
Você sabe que eu não gosto disso, dessa situação horrorosa, eu não gosto do que ele vem fazendo com você. Eu detesto te ver feliz em julho, com sorrisos que parecem filhos de um milagre e daí que em agosto uma onda de desespero e agonia te derrubam e você fica aí se afogando. Nem gosto de te ver nesses momentos porque seus olhos me contam as histórias das noites em claro, as lágrimas que tanto molharam fronhas, mangas de casacos, sua expressão grita me dizendo que todas as suas forças já se foram e você tá lutando Deus sabe lá como.

Eu queria te embalar em abraços fraternais, queria que meus abraços fizessem essa droga toda desaparecer de uma vez por todas. Queria te apresentar o cara mais gato da face da terra, alguém que poderia te curar e dizer "TOMA, ESSE É SEU. AGORA ESQUECE AQUELE GORDO BABACA", mas infelizmente eu não posso, sis.
Estou seriamente preocupada e de mãos atadas. O que eu posso fazer pra te tirar disso? Tudo TUDO T-U-D-O o que eu tinha pra falar eu já disse. Todos os conselhos eu já te dei. O meu apoio você sabe que tem, agora é com você.

Pula. De uma vez por todas, pula. Para de tentar se equilibrar. Ele não vale seu esforço. Amor nenhum vale uma vida de constantes momentos infelizes. Não quero isso pra você, sis. Sei que não faço ideia da dor que você deve estar tendo que suportar, mas você não está sozinha. Eu estou aqui te pedindo pra não se entregar. Lute, lute pra ganhar, lute com todas as armas que estiver em seu alcance. Eu não vou te abandonar. Essa é a batalha final, deve estar sendo incrivelmente doloroso, mas segura minha mão, eu estou aqui do teu lado. Me diz como eu posso atacar, como eu posso ajudar. Conta comigo. Sou sua irmã e estou aqui para isso. Se apoia em mim que eu te ajudo a seguir.
Você pode construir tudo de novo. Acredito que essa fase já está chegando ao fim e daqui pra frente as coisas serão diferentemente maravilhosas. Eu acredito. Você também acredita, não é? Só não se renda. NUNCA.
Por mais que esteja difícil, você sabe que pode contar comigo, sua irmã, sua sis, a Róri, essa que se faz rocha pra suportar minhas dores e as suas dores também, se preciso for. Dê o seu máximo que Deus cuidará do resto. Estamos entendidas?