sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Epifania

A vida está tão corrida agora, mais que corrida, tumultuada. Não tenho tido tempo pra nada, nem mesmo para meus momentos "séries de TV" ou "filme cultural da semana" ou até mesmo deitar em minha cama, relaxar a mente e ler pelo menos um capítulo de um livro não didático por noite. Automatizada. É isso, estou automatizada. Acordo, faço isso deixo de fazer aquilo, tomo café, saio de casa, esqueci alguma coisa, volto, saio de novo, pré vestibular, fala com fulano, presta atenção na matéria tal, desço, tiro xerox, volto, contas, textos, concentra, desconcentra, lembro de alguma coisa, rio sozinha, foco, exercícios, almoço, bate perna, vai pra lá, volta pra cá, olha pro céu, aula, tira dúvidas, matéria chata, sono, blábláblá, desperta, concentra de novo, fim da aula, café, aula de específica, lembrar do maldito "DE ACORDO COM A IMAGEM", cansaço, pânico, questões, mente pesada, corpo cansado, fim do dia, volto pra casa, banho, comida, cinco minutos de máfia, dois de twitter, caindo por cima do teclado, cama, livro, opa dormi. Acordo, faço isso deixo de fazer aquil...
E acontece que eu não tenho tempo pra pensar na vida, nas mudanças radicais, no futuro. Quando ainda assim por alguma obra do destino eu me desligo do 220 e reflito dois segundos, já bate o desespero e corro atrás de um Ramalho pra resolver uns exercícios de física e depois crio um texto maluco sobre o amanhã incerto que me apavora.

Mas acontece que essa semana eu sentei sozinha no pátio do clube onde tenho aula. Eu e a minha maçã que seria meu almoço do dia. Nas últimas mordidas uma semente caiu no chão de pedra e por reflexo eu acompanhei com o olhar. Daí que aconteceu. Eu olhei pro chão e ali estava a semente da maçã. Puf: uma avalanche de coisas passaram pela minha cabeça. Tudo tão rápido, mas tão bem definido. E se eu não tivesse entrado nesse curso? Se eu tivesse por acaso optado por estudar sozinha? Eu nunca conheceria o Andy ou a Bianca ou a Guísella ou a Raphaella ou a Emylli? E se eu entrasse em outro pré vestibular? E se eu tivesse passado para a faculdade no semestre passado? Eu estaria agora entediada e sem nada para fazer em casa? Gente, a essa altura eu não consigo me imaginar em casa de bobeira nem mesmo meia hora! Eu nunca tinha parado para pensar que aquele pré vestibular me trouxe tantas coisas boas. Olhando para a semente ali naquele chão eu percebi que dois mil e doze não está sendo essa catástrofe toda. Quem diria que eu poderia um dia dizer isso, mas está sendo bacana. Seis meses já foram suficientes para eu dizer com certeza que eu gosto daquele lugar. Por mais que eu tenha ficado arrasada em não ter passado esse ano, e ter desejado com cada célula do meu corpo que tudo isso passasse correndo, agora sou obrigada a admitir que dois mil e doze e aquele pré vestibular me trouxeram sim coisas muito boas. Experiências e pessoas maravilhosas.

Agora dois mil e doze está fazendo mais sentido no contexto geral da minha vida e a cada dia mais estou acreditando que o que é pra ser é na hora que tem que ser. Não adianta afobação, ansiedade, lágrimas e birras. Temos mesmo é que aproveitar os momentos e tentar enxergar o que de bom nos acontece todos os dias e não percebemos. Nos agarrar às belas coisas pequeninas que aparecem do nada, como aquela chuvinha no fim do dia ou àquele "Deus te abençoe minha filha" que senhorinhas desconhecidas geralmente nos dizem quando simplesmente sorrimos e atravessamos a rua ao lado delas. Agradecer pelas aulas de literatura, pela terceira fase modernista e parar de reclamar de Clarice, a Lispector. ♥

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sonho de vida fervente

"But I only needed one more touch
Another taste of heavenly rush
And I believe, I believe it so
And I only needed one more touch
Another taste of divine rush
And I believe, I believe it so"

"E eu preciso de mais um toque
Outro sabor de ímpeto celestial
E eu acredito, acredito tanto
E eu preciso de mais um toque
Outro sabor de ímpeto divino
E eu acredito, acredito tanto"

Breath Of Life - Florence and The Machine

Sexta feira estava eu passando um frio do cacete na aula de específica de geografia. No meio daquele meu "escuto o que o professor está dizendo, mas não tiro o olho do papel porque estou anotando tudo freneticamente" parei para dar atenção especial a um conceito totalmente gay e mimimi do mundo da geografia.
"Lugar é todo espaço onde o ser humano possui apego, cria laços emocionais, é o espaço que ele pode chamar de casa."
Eis que sábado eu saio da minha cidade, onde passei toda a minha vida e vou para o litoral. Já fui a esse mesmo espaço tantas vezes antes, mas dessa vez voltei com a vontade de chamar aquele espaço de lugar, de meu lugar.

Estou morrendo de medo. Estou muito empolgada. Estou assombrada. Estou ansiosa. Percebi que estou no lugar errado. Por mais que eu goste da minha casa, algo me diz que eu não sou daqui, não pertenço a essa cidade e essa cidade não me pertence, esse não é o meu lugar. Estou com a oportunidade em mãos de mudar tudo, a minha vida inteira daqui para frente e estou com medo de fracassar, colocar tudo a perder. A decisão do meu futuro cabe somente a mim e isso me assusta porque se tudo der errado eu não posso simplesmente apontar para minha irmã mais nova -por exemplo- e dizer "A culpa foi dela". A responsabilidade é somente minha e isso está pesando muito ultimamente.

Tenho somente dezessete anos, mas anseios e planos para toda uma vida. A vontade de agarrar tudo em meus braços, de viver tudo de uma vez, de experimentar, dizer que sim, me aventurar, me atirar. Porém algo me segura pelo calcanhar todas as vezes, algo nessa cidade me faz perder a vontade de só sair por aí e encher meu pulmão de ar, sentir a brisa no meu cabelo, algo aqui me faz perder a tenacidade. Algo aqui só me faz querer ficar trancada em meu quarto ouvindo minhas músicas, lendo meus liros e escrevendo devaneios, não que seja ruim, mas a vida é bem mais que isso.
Esse final de semana eu senti, eu vi, eu vivi, eu toquei, eu fechei os olhos e enxerguei o futuro. Os acontecimentos recheados de frenesi influenciaram também, mas foi mais que isso. Uma luz veio e se alojou em minha mente. Iluminou todos os outros pensamentos sombrios que eu andava tendo. Até a solidão que vem me assolando ultimamente ganhou uma nova roupagem. Percebi que não estou sozinha só porque tenho andado sozinha. Percebi que coisas incríveis podem acontecer se você só permitir que a vida faça a mágica dela em você.

Eu não posso deixar passar, eu tenho que me agarrar com toda a minha alma, tenho que dar mais do que eu puder dar. Estou tão perto agora que quase posso tocar, fecho meus olhos por dois segundos e já posso ver o que me aguarda. Eu quero ir para o espaço que eu possa chamar de meu lugar, um lugar que me abrigue, que seja minha casa, lugar onde eu possa me sentir encaixada. Lugar onde eu possa pertencer de corpo, alma e mente. Eu venho precisado disso faz tempo, mas a ficha só caiu nessas ultimas horas.

Tentar mudar para ter um bom futuro, abraçar o meu lugar, expandir meu horizonte e criar novas perspectivas é a coisa mais importante, mais séria e decisiva com que eu já lidei na vida. Acho que é cedo pra tanta responsabilidade, que tudo isso pode vir aos poucos e mais tarde, mas eu tenho a minha chance agora e eu preciso fazer que isso se torne real, palpável. Eu vou conseguir, falta tão pouco! EU VOU CONSEGUIR. vocês vão ver.